terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

aptidão

Alvos fáceis. Somos alvos fáceis demais. É impressionante como fomos moldados pra aceitar qualquer motivo pra viver, como somos construídos com espaços vazios aptos a serem preenchidos por qualquer coisa que nos enfiem goela abaixo. Somos alvos fáceis e no fim das contas ainda achamos que temos liberdade.

Bastaria que alguém esperto o bastante ou idiota o bastante bolasse algo que teoricamente satisfizesse algumas de nossas “necessidades” que nós nos renderíamos rapidamente a qualquer que fosse o preço cobrado. Tão vulneráveis nesse temporal, tão aptos a aceitarmos a elitização. Tão desesperados por sermos especiais.

Somos viciados em enlatados. Somos porcos a espera da ração que irá saciar nossa fome. Somos porcos se esbaldando no lixo que nos jogam. Porcos gordos e fedidos trepando uns sobre os outros entre excrementos e lama. A verdade é que qualquer um venderia a alma pra poder viver o que nos vendem. A verdade é que ninguém resiste em se esbaldar na miséria do outro. A verdade é que sempre criamos formas novas de nos diferenciar e de nos exaltar de quem é supostamente diferente de nós.

Eu não tenho objetivo nenhum. Tudo isso aqui não passa de um monte de palavras, afinal de contas eu fui feito com o mesmo vazio que qualquer outro, eu fui fabricado pra um fim inevitável e pra uma vida controlada e vaga. Fui feito pra querer ser quem não sou, fui feito pra querer ter o que não tenho, fui feito pra sonhar com tudo o que anunciassem na minha tevê, no meu rádio, no cinema, na literatura, em qualquer lugar.
Fui feito pra comprar sonhos infundados e sentir uma agonia sem tamanho na busca de realiza-los. Fui feito de bobo.

Não importa. Eu compro a sua ideologia mesmo assim se ela vier com um punhado de pedras e um inimigo mortal em quem eu possa desferir minhas dores. Eu compro a sua ideologia se ela me prometer qualquer tipo de salvação ou recompensa, e olha que eu nem sou exigente, as minhas não precisam ser virgens e nem tantas.

Um comentário:

  1. Muito bom seu raciocínio Ivan. Somos vazios e procuramos a todo momento coisas, idéias para nos preencher, mas nada tem esse poder.
    Desde de pirralhos condicionados como cães na base da recompensas e punições para, no fim, aprendermos a sempre tentar aparentar superioridade a suposta ralé que nos cerca.

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