quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ontem eu tinha tão belas palavras no meu pensamento, eu via em cada uma delas um brilho próprio, uma luz única em cores hipnotizantes. Eu pareço cada vez menos apto a cumprir alguns objetivos sociais; o que me faz pensar que pessoas como eu merecem um objetivo razoavelmente mais intenso por conta dos excessos e das ausências peculiares a cada um de nós.

Minhas expressões artísticas continuam distantes, mas cada vez menos. Em contrapartida a isso a minha capacidade de dividir minhas idéias e inspirações parece cada vez mais restrita no meio em que vivo. Esse fato põe em cheque uma diversidade de questionamentos os quais eu prefiro não citar de forma explicita nesse texto.

As vezes eu funciono como uma maquina, mas uma maquina tão humana que não é capaz de manter o mesmo ritmo o tempo todo e assim, a exemplo da vida que é absurdamente desregrada eu consumo os instantes em que meu êxtase ocorre.

Sem nem saber que o que não digo também faz parte de toda a composição.

O tempo que me sobra entre todos os ruídos que eu alcanço e reproduzo nesse espetáculo efêmero e único da minha sinfonia individual e voraz.

Ontem eu tinha tão belas palavras no meu pensamento e além de belas elas tinham objetivo. Compunham coletivamente uma ideia estruturada e desenvolvida, traduziam o que se passava em mim naquele e em tantos outros instantes.

Minhas expressões artísticas estão sempre a um passo de aflorar, a um segundo de acontecerem, a um centímetro de distância.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

tralha

Minha mente dói
Uma dor com acento
Uma dor com angustia e lástima
Eu não sou capaz
Eu não tenho forma de me fazer em partes
De me metralhar pelo mundo
De me tralhar sem rumo, sem lógica, sem sentido algum
Apenas o dos seus ouvidos
Olhos, boca, mente e coração
Os seus sentidos, sentimentos divididos entre palavras
Nossas falas gastas por esse mundo frágil e emergencial
Minha mente dói
Dói de tanto procurar um motivo pra essa dor
Dói, pois doer é tudo o que lhe resta nessa terra oca
Dói o grito que eu abafo em cada passo, em cada dia, em cada calçada
Eu não sou capaz
Eu não tenho forma de me aliviar de tudo
Eu não sou tão direto e nem tão coeso
Nem nunca fui tão pouco alheio aos alheios e aleatórios que dividem seus caminhos com o meu
Eu explodo pra dentro
e arroto fumaça de enxofre no meu próprio inferno coletivo

tic-tac-tac-tac

Vou escapar, a vida me cobra um sacrifício novo a cada dia. Sou ruim de pagar, sou ruim de abrir mão de algo tão meu. O tempo se esvai rápido demais e a continuidade da minha existência me parece independente e alheia a qualquer sistema regrado. Se eu fosse acreditar nas profecias que ouvi, deixaria tudo pra trás cegamente, se alguns dos profetas que bateram na minha porta o tivessem feito logo após me anunciarem o fim, talvez eu tivesse razão pra crer em alguns deles.Todos tem medo demais de errar, medo de se arrepender do que fizeram mais do que de se arrepender do que não fizeram. Afinal de contas se até pros profetas apocalípticos existe manhã...

Meu amanhã se parece cada vez mais com um nunca mais. Algo que nunca vai me alcançar até o dia em que não mais exista. Pode parecer complexo, mas eu vejo assim agora e provavelmente vou ver assim também amanhã. O tempo me permite extrapolar as interpretações e dizer o que eu bem entenda, o tempo me permite dizer o que quem quiser entender. Vago mesmo, descoordenado e aleatório, mas no fundo no fundo, milimetricamente calculado.

O amanhã é apenas um fantasma agora, um fantasma que eu nem sei se existe de verdade, algo como uma força usada pra me manter com os pés no chão, uma gravidade temporal. Pra que a pressa? Se tiver que terminar aqui e agora que seja da maneira que é, pois ela é a única que há pra ser, o amanhã pode continuar existindo e permitindo milhões de possibilidades, cada uma delas dependente direta do agora, mas antes de hoje já existiu o ontem e nada vai mudar o ontem, pois apenas esse ontem de trouxe para esse agora. Então de agora em diante não se esquece de que hoje será ontem e amanhã será hoje e depois será também ontem. Tudo o que você tem de certo é o seu ontem, então faça ele bem feito, viva bem agora e amanhã.

domingo, 8 de novembro de 2009

aos homens e ao Deus

Uma palavra
Em busca
Embarca
Provisão
Entrelaça
Coreografia
Uma ala
Outra via
Língua
Dente
Masca
O oceano
Ardente
Entre a água
E o vidente
É fácil
Soprar os ventos do mar
Mãe
Em suas mãos
Em sonho
E intuição
Sorrir sem ar
Após ouvir
A dor do mar
Uma palavra
Em busca
A peça
Que falta
O mar de outro mar
Profundo
Profano
Profético
Pro fim

justificando

Escrevo por falta de outra aptidão artística, acho que sempre fui ingrato a esse habito que me segue há vários anos. Escrevo simplesmente pelo silêncio que escrever me proporciona, pela capacidade de abstrair o mundo enquanto extraio de mim as letras que irão consumir a minha angustia. Escrevo apenas por não poder executar esse exercício de manutenção de outra forma.

Se nesse vazio me perco
Na inaptidão em ser perfeito
Se me canso e me castro
Sem pressa e sem objetivo
Me desalinho da fila
Não me importam os olhos
Não me importam as línguas

Se nesse vazio me enterro
Na indisposição em ser perfeito
Se me nego e me oculto
Sem medo e sem objetivo
Me desafino do coro
Não me importam os olhos
Não me importam as línguas

Se nada parecer tiver sentido encontre em ti um sentimento pra fazer com que tudo possa valer a pena. Entre lagrimas e duvidas acredite.


http://nasuaesquina.blog.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"uma e ktorze"

Me cansei de letras e das minha tentativas de ser mais sonoro que um ornitorrinco. Tem chovido demais esses dias e tem uma goteira no meu quarto que deixa o chão todo molhado. Ainda não me adaptei ao horário de verão, ainda não me adaptei ao fato de estarmos em outubro, ainda não me adaptei a esse planeta.

Todas as musicas me parecem complicadas demais pra que eu possa fazer a minha musica existir, não encontrei um programa pra fazer musica no computador e nem o carregador da câmera digital, eu não tava inspirado pra tocar violão e sem paciência pros exercícios de bateria. Eu tava sóbrio demais pra conseguir entender o que eu estava querendo dizer.

Preciso de uma internet mais veloz, preciso de milhares de milhões de coisas e sempre vou precisar de mais e mais e mais. To teclando sem olhar pro teclado e pensando em um monte de coisas que eu queria ou deveria estar fazendo, depois de anos eu consigo fazer tudo isso ao mesmo tempo, isso me da esperança com relação a algum tipo de produção musical. Eu tenho falado muito de musica, eu tenho ouvido muitas musicas, eu tenho esperado pacientemente a minha vez de poder fazer musica do meu jeito.

Acabei de me lembrar que eu escrevi um texto ontem, vou procurar ele e publicar no blog.com, não consigo fazer textos pensando em letras de musicas. Hoje eu tive um monte de sonhos insanos e não faço a menor idéia do que eles queriam me dizer no fim das contas, de festinhas na casa de conhecidos enquanto eu fumava um cigarro com meu tio a um tipo de parada internacional de alguma coisa onde eu não conseguia respirar, passando por um ensaio com os caras da minha primeira banda e eu semi cego tocando guitarra. A noite foi bizarra, mas eu adoro quando é assim.

Os bumbos do Queens of the Stone Age são bizarros. Será que um dia eu vou conseguir fazer isso? Vou procurar o tal texto de ontem, não faço nem idéia do que ele diz, talvez ele me dê algumas dicas sobre os sonhos bizarros. Po, sabe que no fundo o texto teve a ver com os sonhos, engraçado isso né? Odeio esse corretor automático do Word, ta, é verdade que direto ele me ajuda em várias questões gramaticais, mas direto ele deturpa tudo o que eu quero dizer. Ah, e também deixa passar um monte de vacilos.

Quero fazer um som bem tranqüilo, relax, que vá crescendo e se expandindo, partindo prumas viagens experimentais muito loucas e termine bonito e novo. Quero uma sonoridade bem real, bem vida mesmo, sem regra, sem rumo, diversas vezes caótico, mas sempre chegando em uma conclusão. E nada de letras, eu to de saco cheio de palavras.

Isso aqui ta parecendo os exercícios que eu fazia quando tava me levando a serio como “escritor”. Saio escrevendo cada pensamento que eu tenho só pra exercitar mesmo, funciona e é bem legal também, é claro que isso depende do dia e de quem ta lendo, mas eu não escrevo nada pra quem ta lendo. Escrevo pra quem ta escrevendo. É, eu sou um puta dum egoísta mesmo.

Adoro textos sem titulo, mas também gosto de dar títulos aos textos, o problema é que as pessoas levam os títulos a serio demais, eu posso escrever sobre um amor e colocar o titulo do texto de: “Se houver violação confira a mercadoria no ato do recebimento.” E dessa forma posso colocar todo mundo pra pensar em qual pode ser essa violação ou esse ato de recebimento. Todos dois tem um certo teor sexual né? Mas na verdade isso tava escrito numa caixa que ta do meu lado e que chegou pelo correio. Isso é a vida! A vida é tudo, nada e principalmente qualquer coisa.

Prefiro não entrar no próximo assunto. Prefiro parar por aqui e começar a escrever alguma coisa digna. Se você perdeu minutos importantes da sua vida lendo isso, obrigado e volte sempre.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Como vão?

Como vão vocês? O mundo não parou nem um segundo desde que eu parti, as horas duraram dias na distância invisível que nos impediu de coexistir. Da janela que eu inventei; aquela que da pro quintal, eu pude ver a velocidade das suas maquinas, eu pude ver a voracidade das suas maquinas enquanto elas se alimentavam de cada um de vocês, enquanto elas se alimentavam de todos nós.

Olá. Como vão vocês? Os relógios seguem com seu tic-tac paranóico arrancando os cabelos e brotando rugas em suas faces. Não se preocupem é de praxe. Sabe que dá até pra discutir cada minuto que eu perdi daqui olhando prái. É, é sério, aqui as vezes é tão calmo que eu acho que estou num cemitério, e a riminha foi proposital, a gente fica bem mais piegas quando se esconde do mundo. Mas quer saber? Eu não to nem ai, literalmente eu não to nem ai.

Sabe que enquanto a lua passeava pelo meu céu cheio de estrelas eu lembrei de coisas que eu nem sequer imaginava ter vivido. Enquanto o sol brotava por de trás de uma montanha e eu matava o frio em mais um copo de café, pude ver que cada centímetro que nos separou foi em vão.

O nosso castigo somos nós mesmos. O nosso castigo somos nós e nossas merdas, nós e nossas fraquezas, nós e nossas malditas certezas. Nós e nossos julgamentos, nós e nossos critérios, nós e nossas divergências. Eu pensei que eu faria um mundo lindo se o fizesse sozinho, mas logo vi que não existe mundo de um só, não existe mundo de um só gosto, de uma só cor, de um só rito. E por mais que fossem belas aquelas visões, eu sabia que em nenhuma delas estava a solução pros meus problemas.

To aqui agora, de malas prontas pra encarar a vida. Sem rumo nenhum, sem certeza de nada, cheio de responsabilidades pra cumprir e contas pra pagar. Cheio de ter que ser o que eu não sou, cheio de ter que viver como eu não quero, cheio de tudo e de todos. Sabe que quando eu digo algumas dessas coisas, tudo o que eu vejo somos nós de frente prum espelho. Eu e vocês, eu e cada um de vocês, vocês e cada um de mim. É tudo mim, é tudo eu, é tudo assim pra nós?

As vezes algumas imagens vem na minha cabeça, um elevador, uma bateria, o céu cinza, meu celular tocando, um computador, um esquilo, uma arvore, uma cruz, um amigo... Coisas que eu guardo em mim sem nem motivo. Coisas que eu consumo a cada minuto de mim. E tudo o que eu queria era poder dizer tudo isso sem uma só palavra.

As vezes eu penso que tudo vai dar certo, que justamente por as linhas serem tortas o destino é divino. Mas admito que um medo sombrio me consome lentamente todos os dias enquanto eu rolo na minha cama esperando o sono chegar. Um medo lentamente me consome enquanto eu fico esperando a hora chegar. Eu não tenho solução pra nada e cada nova escolha me prova ainda mais que eu não estou nem perto de estar pronto. Isso me deixa sem ar, me deixa sem forças, me deixa vendado e algemado em algum tipo de encanamento corroído pelas ferrugens de onde saltam gotas geladas de água que escorrem lentamente por entre meus braços. E eu ali. Sem virgulas, sem saída, sem sentido, sem objetivo ou ambição, sem razão alguma.

E por mais que eu ignore e experimente a vida que me cerca, o vazio da incerteza ainda sim suga a paz do meu espírito e na necessidade doentia e moderna de ter que controlar tudo o que me cerca, no imediatismo dos dias das horas vorazes e na vontade inevitável de ser tudo o que possam me oferecer eu me esmago e perco o foco e o tempo que eu tanto precisava ter. É uma teia invisível e eu fui pego enquanto voava distraído e sem rumo. Pelo menos a vista aqui é boa.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

5 em 2

Consome a carne
Queima o filtro
Deposito de amarras
Prisão invisível
Acende a luz
Sacia a sede
Depois de mim
Até que seja tarde
Em nada
Pro nada
Por nada
Simplesmente diz
Digo,
Eu?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pão Quente

Era só uma boa desculpa pra que a vida se tornasse menos vazia. Todos os dias eu descia até a padaria as sete e trinta e cinco pra lhe dar bom dia. Algumas vezes lhe seguia e foi numa dessas que descobri onde era a sua casa, depois disso passei a caminhar até três vezes por dia, a tarde, a noite e até de madrugada, a maioria das vezes de madrugada, só pra ver se te via ou simplesmente zelar por seu sono.

Não demorou pra que eu descobrisse que a outro você pertencia, mas a coisa chegou num ponto em que isso em nada interferia. Acho que no fundo eu já nem fazia por você ou por seus olhos verdes e peitos enormes, acho que no fim das contas era mesmo pra ter o que fazer. E foi por isso que comprei o cachorro, aquele branquinho que nem sequer tinha nome, até que um dia uma senhorinha veio puxar papo enquanto ele cagava em frente a sua janela.

“Oh, que bonitinho! Como chama o cachorrinho?”

E ai sem saber o que responder eu disse que o nome dele era Aristeu.

“Nossa! Igual ao meu marido!”

Confesso que nesse momento eu me assustei um pouco, mas mal sabia eu o que iria acontecer ainda não é? Foi ai que saltou pra fora da janela naquele sol de outono as três da tarde, o seu rostinho lindo dizendo.

“Mãe, traz um chocolate pra mim.”

E a velha mulher do Aristeu quem diria era a autora da sua beleza gritante. Você acenou pra mim daquele jeito tipo “Oi carinha da padaria.” E eu dizendo:

Olá. Como vai?

Fui acompanhar sua Mãe as compras. Confesso que depois de duas semanas de amizade com a sua velha eu já não agüentava mais, já estava até repensando se valia a pena todo aquele esforço. Até o dia em ela me pediu pra ajudar a carregar as compras e pela porta da cozinha eu pude te ver só de calcinha e camisetinha vendo tevê no seu quarto. Aquele dia eu passei pelo menos duas horas no banheiro.

Mas bom mesmo foi quando ela me disse que ia viajar e me pagou cinqüenta reais pra ir até a sua casa regar as flores dela. No primeiro dia eu não reguei flor nenhuma. Passei a manhã inteira no seu quarto mexendo em tudo. Devo confessar uma atenção especial a sua gaveta de digamos roupas intimas. Mas a surpresa mesmo foi no segundo dia, eu já me preparava para passar a noite no seu quarto quando ao abrir a porta dou de cara com a sua chave na mesa da cozinha. Fiquei estático, até que você veio assustada ver que barulho era aquele. De pijama cinza, calça quadriculada e toalha amarrada na cabeça. Simplesmente linda!

Oi. É, o que você ta fazendo aqui?

É que a sua mãe me pediu pra vir regar as flores.

Ah, sim. Tudo bem então. Se precisar de alguma coisa eu to no meu quarto.

Então subi rumo as flores do terraço, minhas pernas estavam bambas, meu coração disparado. Em minha mente milhares de situações aconteciam simultaneamente e na maioria delas nós dois estávamos nus nos amando loucamente em todos os cômodos da casa. Depois de regar todas as flores desci discretamente e quando ia em direção ao seu quarto me despedir tive uma idéia. Subi as escadas, fechei os olhos e me joguei. Com o barulho você correu assustada e ao me encontrar estirado no chão veio me acudir.

Meu Deus! Você esta bem?

Suas mãos em meu rosto, a dor era pouca eu tinha me precavido e arrumado um jeito de fazer bastante barulho. Foi então que de repente nossos olhos se encontraram e em silêncio eu mergulhei em seus lábios. Dois segundos depois os cinco dedos de sua mão direita acertaram minha bochecha e sua doce voz desferiu horrendas palavras para minha pessoa. Levantei e sai sem dizer nada, deixei a chave na porta e passei a comprar pão em outra padaria.

domingo, 13 de setembro de 2009

o que fazer?

A extensão dos dias se modifica de acordo com a situação. Eu saberia o que dizer se houvesse o que ser dito, mas no silêncio eu sempre me embaraço todo. Eu acredito que não sei e por assim acreditar eu acabo por nascer sempre no mesmo lugar. Eu não quero ter sentido eu só quero e sentir mesmo que sentir me faça desmontar. As palavras não me bastam, nem a voz e nem o tempo, o que eu quero Deus ainda vai ter que inventar. E não importa a razão, a posição ou argumento eu nunca vou me entregar. A lua é nova e a vida é sempre e mesmo que nada fosse seria eternamente uma possibilidade. Corto um pedaço de mim em teu nome e no meu peito faz nascer a escuridão? Eu seria bom se fosse um jogador, eu seria mais se fosse um conquistador, eu seria eterno se eu fosse um rei. Mas tudo o que sei, tudo o que posso entre as sobras e destroços, é mapear. E os que tiverem fé, sorte e nada a perder que me sigam até meu próximo erro.

responda

O quão bonito você quer seu céu?
Qual é cor da sua parede?
A dor do seu coração
Qual é?

Como você prefere amar?
O que te faz sorrir?
Você se importa se eu sangrar?

Seus olhos são famintos pela vida
A sua boca se encaixa bem na minha
A sua voz radioativa
A minha vez subversiva

Submissão

O quão bonita vai ser a sua morte?
Qual é o gosto da sua alma?
O som do seu prazer
Qual é?

Como você prefere esquecer?
O que te faz gozar?
Você se importa se eu enlouquecer?

São passos a procura da saída
A sua sorte se parece com a minha
A sua é tão provocativa
A minha é só e entorpecida

céu e som

Confesso que o dissabor das pessoas muitas vezes me tira o gosto da vida
Sei que o problema é meu e acho que bem por isso me adaptei a solidão
Sem ouvidos exigentes ou educação excessiva feita para exibição
Sem julgamento algum ou olhares de reprovação ou desentendimento
Apenas eu em tudo o que eu possa ser capaz de suportar ou gerar
Eu e o meu infinito repleto de desencontros e magnetismo
Apague todas as luzes me deixe alguma recreação
E desapareça junto com todos os outros
Hoje eu quero algo que só eu posso me dar
Quero todas as minhas irrecusáveis verdades

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ilusão programda - 4

Não me lembro quando ou nem onde, tudo o que sei é que ele estava lá, na minha frente, sentado em uma grande cadeira giratória do outro lado de uma mesa de vidro em uma sala de paredes cinza, onde além da mesa só havia uma estante repleta de livros e de poeira. A medida que minha mente recarrega os fatos eu pareço revive-los.

O velho de terno branco e poucos cabelos na cabeça. Tinha dentes podres e fumava um charuto. Batia as cinzas no chão e a fumaça tinha cheiro de canela, sua cara de poucos amigos atravessada por um sorriso irônico ainda me tira o sono em alguns momentos. Não sei ao certo quanto disso tudo é ou foi verdade, quanto mais eu penso nesse momento mais coisas eu lembro e assim fico me perguntando se cada acréscimo não é na verdade pura imaginação. Na duvida só me resta escrever a respeito.

A primeira coisa de que me lembro e que eu entrava na sala por uma grande porta de madeira, ao entrar vi o velho ao telefone, telefone esse que quando eu cheguei perto da mesa percebi que não existia. As coisas naquele lugar eram tão estranhas mas eu parecia não me importar. Nem eu nem ninguém mais.

Depois de tossir um pouco o velho disse. Bom dia meu filho. Quer café? Não, obrigado. Tudo bem então. Você faz alguma idéia do motivo pelo qual eu mandei te trazer até aqui? Não senhor. Eu não faço a mínima idéia sequer de onde estou. Nesse momento ele deu uma risadinha do tipo “Ora essa.” Rapaz, eu lhe chamei aqui para lhe dizer algumas coisas que acho que você deve ouvir. Tomei conhecimento da sua proximidade com algumas pessoas e de algumas de suas habilidades e façanhas. Você não é nada demais. Já vi mais de quinhentos como você ao longo da minha vida e me pergunte onde eles estão agora. Todos acabados! Eu não entendi o que ele queria dizer com “como você”, mas mesmo assim ignorei esse fato. Rapaz. Você tem que entender uma coisa, uma única e simples coisa que faz toda a diferença no mundo em que você vive. A grande maioria, para não dizer todas as pessoas, não quer nem saber o que você acha, o que você sente, o que você vive ou o que qualquer outro que não seja eles mesmos faz. Você meu jovem está sozinho e assim vai estar pro resto de sua vida. Mas senhor, eu tenho muitas pessoas junto de mim que me apóiam e orientam, pessoas que se importam comigo e com as quais eu me importo, e tenho convicção de que elas estarão comigo pro resto da minha vida. Que belo discurso! Você é bem mais cru do que eu imaginava menino. Não sei se me fiz claro, mas na duvida vou esclarecer isso pra você. Quem são essas pessoas? Não! Não me responda ainda. Elas são importantes? Elas são ouvidas pelas outras? Elas tem poder sobre as demais? Elas não são ninguém! Assim como você elas não são ninguém e não importa por quanto tempo ou quanto vocês tentem, vocês serão sempre ninguém! Nada, zero, lixo, porra nenhuma! Entende?! Admito que enquanto ele socava a mesa entre algumas de suas palavras eu pude ver que no fundo ele afirmava tudo aquilo com um certo pesar. O velho se recompôs, sentou de novo em sua cadeira e acendeu outro charuto. Eu não sabia o que dizer e pra ser sincero acho mesmo que não deveria ter dito nada. Alguns segundos se passaram e ele retomou a conversa. Eu estou aqui para lhe fazer uma proposta. Mas me parece que você ainda não esta apto a compreender o que essa proposta realmente implica. Vou permitir que você pense a respeito e tente encontrar em você o sentido de minhas palavras. Nem sempre podemos vencer menino. Nem sempre podemos salvar o mundo. Sei que você tem passado por muitas coisas ultimamente, mas saiba que esse é só o começo. Só o começo.

Isso é tudo de que me lembro. O que eu não entendo é que não consigo encaixar esse acontecimento cronologicamente em minha vida. De um dia para o outro surgiram essas lembranças como se desencadeadas por algum tipo de código ou chave oculta com a qual posso ter estado em contato recentemente. Tudo o que sei é que ainda vou encontrar aquele velho de novo, mais cedo ou mais tarde.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

metralhadora

Eu queria estourar cada pedaço do teu ser
E brilhar no infinito escuro do fundo desse poço
Eu não sou meu trabalho, eu não sou minhas roupas
Sabe o quanto eu fui longe pra poder ouvir esse silêncio?!

Cuspa em mim toda a sua dor e as suas restrições
Foda-se! Eu grito mais alto, eu bato mais forte, eu sangro no chão!
Eu queria encontrar a medida certa, a dose recomendada de frieza
Eu não sou escritor, eu não sou musico, não sou bosta nenhuma
Pimenta nos olhos e uma faca na boca
Pra ver se vale a pena carregar a munição ou acender o pavio

Hahahahahahahahaha

As portas que ficar por trás das paredes e as horas que passam enquanto o mundo se confunde entre consumo e controle. Eu não perco mais a minha razão, eu nunca encontrei a minha forma, eu nunca provei o meu valor. Sou eu quem vou decidir no que tudo vai dar e pra dizer a verdade eu prefiro arriscar, deixar a sorte ou o azar, pra ter alguém pra culpar caso nada de certo. Covardia ensaiada ou coragem demais pra bancar os riscos? Se eu não puder agora, não vai ser nunca mais!

Metralhadora giratória
Aonde foi para toda a sua honestidade?
Onde foi que você deixou a sua raiva?
Quem foi que te domesticou?
Quem foi que te podou?
Onde é que esta aquele brilho nos olhos?
Aquela vontade de conquistar ou destruir?
Aonde esta a sua capacidade de ignorar os olhares?
Aonde esta o seu amor?
Vai aceitar ser só mais um?
Mantenha-se de pé e grite de olhos fechados
O mundo é que esta errado
E fodam-se as probabilidades

não faz mais

Parece que de mim tudo se foi
Como se tivessem retirado cirurgicamente minha capacidade de criar e ousar
Parece que de mim nada restou
Cada gota de inspiração, cada mínimo momento de êxtase

Mas eu nem me importo
Estranhamente eu nem ligo
Não faz mais a menor diferença
Nada faz a menor diferença
Nada apaga da minha mente o teu rosto
Os teus sorrisos, a tua alma
O mundo não é mais nada desde que eu vi você

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

algo perto

Se eu pudesse externar isso em sons
Se eu fosse capaz de alinhar todas essas coisas em notas musicais
Se eu conseguisse me expressar em figuras
Se eu conseguisse modificar o bruto da pedra nas questões da alma
Se eu pudesse tudo isso
Se eu fosse capaz de cada uma dessas artes
Se eu conseguisse ser mais do que só um ser gritante e torto

As palavras não me satisfazem
E por nunca estar satisfeito eu sempre busco mais
Mais, mais, mais!
Sem parar ou pensar
Sem nem mais sentir
Como uma necessidade a ser satisfeita
Como ir ao banheiro
Eu volto até aqui

E grito e giro e sinto
Tudo o que me salta a alma em direção a lama

Eu nunca vou ser grato pelo que tenho
Eu nunca vou ser digno de tudo o que tenho
Eu nunca vou ser o que achei que poderia ser

Mas não me leve a serio
Eu sou só mais um poeta
Ou algo perto disso

caminho

Eu grito no silêncio da minha tevê
Eu sangro entre os dedos que manuseiam o controle remoto
Eu suplico a qualquer crença que me tire daqui
Que me faça voar
Que me isole de toda essa imensidão insana que me cerca
Eu perco os dentes enquanto escrevo textos
Enquanto mastigo meus próprios dedos no teclado do meu computador

Droga!
Que mundo é esse que não pulsa?!
Que mundo é esse que não pula?!
Que mundo é esse que não versa?!

Eu grito entre o latido dos cães na madrugada
Entre os ruídos de passos leves na cozinha
Entre o cigarro e mais uma cervejinha
Eu faço rimas bestas pro meu coração
Eu sito profecias profetizadas em vão
Eu surjo entre o que houver de mais mundano e sujo
Nas calçadas e nas avenidas
No concreto das igrejas que o homem ergueu em nome do Deus que lhe foi mais conveniente
Em nome do Deus que lhe foi mais convincente!

Merda!
Que porra é essa?!
Que bosta é essa?!
Que dor é essa?!

Esse é o meu caminho
Parece que eu estou vazio
Opaco, escasso e frio
Parece que a vida me deixou
Estático, errado e sozinho

Ontem eu era outro
Hoje eu não vou ser ninguém

isso é só

Isso não tem nome
Isso não tem cheiro
Não tem textura
Não tem solução

Isso não tem preço
Isso não tem cor
Não tem medo
Não tem salvação

Isso não tem hora
Isso não tem jeito
Não tem razão
Não tem segredo

Isso não tem força
Isso não tem prazo
Não tem valor
Não tem conceito

Isso não tem técnica
Isso não tem estudo
Não tem método
Não tem intuição

Isso é tudo
Isso não é nada
É aquilo
É assim
É assado
É redondo
É quadrado
É só isso

Isso é só

isso não tem nome

Me deito no berço de toda a loucura
Tentando abraçar o mundo e romper barreiras
A vida é pequena demais pros meus limites
A paz é distante demais para minha alma

Horas que voam contra o tempo
Entre medos, erros e acertos
Chances desperdiçadas entre apertos de mãos

Eu não nasci pra isso
Eu não sou daqui
E por mais que a consciência pese
Por mais que o desejo siga
Eu não consigo
Não cedo, não permito

Me deito no berço das estrelas
Nuvens que dançam sem controle
Sou a essência de tudo o que é solto
De tudo o que é vago e despretensioso
A ausência de qualquer atividade racional
A espetacular vida que brota no impossível
Improvável
Infreável
Incalculável e simples em cada minúsculo pedaço de ser

Noite e dia
Sol e lua
Todos os pretextos pra ser maior
Todos os motivos pra querer ser o mesmo
Cada passo, cada prova, cada peso e cada lua nova
Renascença
Descrença
Ausência

Tudo o que é pouco
Pouco ou quase nada
Em teias de possibilidades
Negação continua e frustrante
Anseios a engolir sonhos
Prazeres e profecias
Belas palavras
Poucos dias

Subo ao altar
Para lhe pedir
O amor

Deixe-me só
Deixe-me surdo
Deixe-me cego
Faça-me absurdo

Contraversão
Intervenção
Solução
Saudação e fraude

Vozes ao pé do ouvido
Chances ao alcance das mãos
E quem faria diferente?
E quem seria mais merecedor?
Não digo não
Não digo nunca
Só agora
Agora e sempre

Pulsa a palavra pesada e impensada
Amanhã
Ou nunca mais

Até breve mundo cão
Universo de vazio e invenção
Solta a minha perna
Que eu quero voar pronde o vento for

E que a mente se perca
No que achar merecedor o coração

fechamento do dia (ontem)

Acordei com um pequeno poema na cabeça, mas ele se perdeu ao longo do dia. O pouco que me lembro é que ele falava de glória, crédito e méritos, mas não enaltecendo, falava de alguém que se desprendia desses pensamentos e objetivos, falava de alguém tão simples que não se importaria em não ser reconhecido, em não ser notado.

Eu não sou esse alguém. Definitivamente eu não sou esse alguém. Assumo isso com uma certa dose de pesar e com um certo tom de esperança de que essa consciência já me torne alguém um pouco mais perto desse alguém tão nobre do qual falava meu pequeno e imaginário poema.

No fundo eu sempre quis ser especial. Sempre quis ter super poderes. Sempre quis que um dia descobrissem que meu cérebro funciona de um jeito diferente ou qualquer outra coisa que me tronasse além do comum de todas as pessoas. No fundo eu sempre quis ter algo que me provasse que eu era diferente e melhor, é isso, sempre quis ser mais do que os demais.

Não sei o quanto disso ou até mesmo se tudo isso é culpa da televisão, dos desenhos japoneses, da sociedade capitalista ou dos filmes de ação. Só sei que no fim das contas isso sempre esteve na minha mente, em cada segundo, em cada palavra, em cada atitude, em tudo o que eu fiz, vivi e sonhei. No fundo por mais estranho que isso possa parecer, isso me fez bem. Por querer ser especial, melhor e diferente eu tomei atitudes mais nobres, mais sensatas, mais corretas, mais arriscadas e em cada uma delas ocorreu um retorno pra minha vida, um aprendizado, uma soma.

O único problema foi aprender a lidar com a frustração de ser mesmo assim, comum. Houveram momentos em que eu sucumbi ao meu ego e me enforquei por ser só mais um, por não ser aquele cara, aquele cara lá que tava se dando bem, que tava sendo o tal, que era o melhor, o maior, o melhor, o maior, o melhor, o maior. Mas no fim das contas por outros caminhos que percorri em outros tempos, encontrei a solução pra toda essa aflição, mas assumo que nunca perdi e nem nunca vou perder o desejo de ser melhor, de sempre ser melhor. Só que agora, eu quero ser só melhor do que o que eu era antes, e que isso resulte no que tiver que resultar.

refugio + trecho de praça

Meu refugio e minha alienação
Meu interioramento monitorado
Minha voz que se esquece de ser
Meus ouvidos captando o silêncio
A beleza do absoluto silêncio
O sol que arde enquanto eu busco em mim motivos pra querer continuar
A vida que me deixa minuto a minuto enquanto eu estático observo o tempo

Meu refugio é minha covardia
Meu comodismo irracional
Minhas mãos que se esquecem de fazer
Minha boca se trancando ao alimento
A fome de vida que me toma as forças
As estrelas que eu vejo nascer e dormir todos os dias
A vida que eu deixo minuto a minuto enquanto o mundo me esquece

“eu não sei pra que lado mais eu vou
tento tanto, mas tão pouco perco o tempo e a direção
percorrendo assim eu vou
persistentemente eu tento insistir em ir
eu sou um otário, angustiado
a minha meta é vaga
infelizmente não dão vaga pra quem vive só sonhando, flutuando,
pela ciclovia num mundo de sonho e fantasia!”