quinta-feira, 28 de julho de 2016

Crer no que eu creio
É pensar que tudo vai ficar bem
Crer no que eu creio
É não acreditar em nada
Por saber que tudo é possível
Crer no que eu creio é simplesmente permitir
Que seja
Sem controle
Talvez sem destino
Mas certamente

Incerto e confiante

sexta-feira, 22 de julho de 2016

eu tinha um tempo
mas ai ele acabou
então eu fiz um novo
um outro tempo
mas ele é lento
é jovem ainda
não conhece os caminhos direito
anda meio torto como um bebê, sabe?
parece que vai cair, mas segue trupicando
até que se senta e para
e me encara, como se esperasse de mim alguma ordem
eu tinha um tempo
que operava em mais de um fuso horário
mas agora tudo que tenho é um tempo só
incapaz de entender outros tempos
incapaz de se adaptar a outras velocidades de interpretação da realidade
um tempo ainda em descoberta, ainda usando fraldas
um tempo que eu preciso limpar e alimentar todos os dias
um tempo que acorda chorando as seis da manhã e que depois dorme sereno até meio dia
mesmo que eu tenha que estar no trabalho as nove 
um tempo que me olha com olhos gigantes e claros como os da minha filha
minha filha que já tem seu tempo em seus onze anos de planeta Nina
e é ela que coloca o meu tempo pra brincar, pra dançar, pra sorrir, pra pular e assistir desenho
é ela que desdobra os origamis confusos da minha vida e me dá caneta e papel pra me reescrever
é ela que me mostra que o tempo não para e que por isso eu não posso mais parar
meu tempo cresce a cada dia e me faz promessas que só eu posso cumprir
eu tinha um tempo
mas ele não era meu por inteiro
agora, eu tenho um tempo todo

um tempo totalmente novo 

terça-feira, 19 de julho de 2016

sou orbitado por vazios

um refém das ausências

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Por isso estou na sua esquina

Não há lugar em que não se possa estar
Não há perder que não possa se encontrar
Não há futuro que não se construa
Hoje estamos
Amanhã somos
Ontem teremos
E quantos tempos num trocar de letras?
Faço-lhe uma pergunta:
E quantos tempos num trocar de letras?
Num mudar de lugar
Num aceitar o incerto
Numa compreensão errante e inconstante do viver de cada uma dessas coisas
Dessas coisas vagas
Vagas e abstratas
Coisas muito sutilmente abstratas
Como um trocar de letras
Como descobrir de sentidos
Na palavras plural do sentimentos
Ouço-te e leio a ti
Mesmo que em mim isso nem seja percebido conscientemente
Mas toca-me de duas formas
Quando me diz, quem tu és.
Mas quem és tu?
Cara de tatu

?

segunda-feira, 11 de julho de 2016

sigo em busca de novos limites que possam me abrigar
rompi a bolha e me atirei no inferno da verdade
eu sou meu pior inimigo
eu sou meu único deus
sou minha perdição e minha cura
sou minha fome e meu ódio
eu sou a faca que nunca cravei no meu peito

sigo em busca de um novo lugar onde eu possa me refazer
onde eu possa expandir toda a minha insanidade e converter o caos em lucidez
eu aprendo na prática
eu apanho na cara
abro os braços pro chão me engolir
fecho os olhos pros beijos me acertarem
eu sou a faca que nunca saiu da gaveta


e agora eu sangro

domingo, 10 de julho de 2016

Olha
Se eu souber
Me esquece
Se eu lembrar
E parte
Se juntar

Em cada linha que desenha a sua mão
E nos pequenos pelos perdidos pelo seu corpo
A cor dos seus olhos e a saliva que você engole
Suas unhas infinitamente decididas em seguir sempre crescendo

Olha
Talvez nada vá fazer sentido algum
Mas olha
Mesmo assim, olha

E deixa cair do céu
Beija logo a lona
E assume o fardo
Ou se joga do precipício
Que não tem deus nesse mundo
Que te salve de você

Se eu souber
Se eu lembrar
E se juntar

Quebra

sexta-feira, 8 de julho de 2016

a vida sabe
e ela vai me contar

olhei pra fora
e vi por dentro
de você

abrindo a alma
perdendo a hora
tentando me reconhecer

ai
ai no fundo
onde nascem suas lágrimas
onde faz calor de verdade
onde brilha um sol atrás de um sol atrás de um sol

a vida sabe
e ela vai te mostrar

que perder não é nada
se você se ganhar
nessa estrada
de viver e errar
de mãos dadas
com o destino que for
do tamanho do seu coração

e chora
chora sim que assim que é de verdade
e me perdoa qualquer maldade
nunca te quis mal algum

a vida sabe
mas a gente não entende

ainda
a gente ainda não entende

mas a gente chega lá
lá onde a gente quer chegar


no nosso lugar

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Você fica indo de um lado para o outro. Abre janela, fecha janela. Varre a sala, tira o lixo. Encontra o que não quer ver e se fecha. Recebe uma ligação, um recado, uma deixa. Deixa quieto. Vai com tudo.

Você se perde entre labirintos imaginários. Se desliga da verdade e vive o sonho que passa na sua cabeça. No intervalo de uma cena pra outra, um recado dos patrocinadores da memória. Você sem lembra? Como se tivesse forma simples de esquecer.

Você vai pra uma festa. Você perde a sanidade, a dignidade o pudor. Se afoga em um copo cheio de torpor, se perde entre curvas novas e sorrisos radiantes. Imagina, cria, diz a verdade, se entrega e se expõe com uma coragem tola. Você dança o silêncio da sua solidão e abraça as incertezas pra dormir mais confortável.

Você troca ela por ela e ainda assim sempre tem uma “Ela” que preenche o seu peito e a sua imaginação como uma forma capaz de assumir tudo o que você quer um dia entregar de novo a alguém. Nada além de você mesmo e seus cacos mal remontados.

Você se acha, você se deixa ir, você se permite romper um limite novo e nele encontra paz ou perturbação, mas não faz diferença. Você sabe que tudo o que pode fazer é ir e ser do jeito que escolher ser sem pensar. Você deixa o despertador tirar mais uma soneca e se esquece do que diziam os seus sonhos.

Você busca conforto em qualquer coisa. Lê o horóscopo e acredita que esse vai ser um bom dia. Você vê ela ao seu alcance, mas prefere ficar quieto e esperar que ela te diga sim ou não. Que te mande um link ou que puxe qualquer assunto. Você tira mais uma foto que não ficou boa. Escreve mais um texto que não ficou bom. Ouve mais um jazz que te prova que você jamais vai ser capaz de se expressar musicalmente se não se dedicar a isso.

Você tem tentado se dedicar. Mas nem sempre é fácil. Você se segura, você engole suas vontades e dá assas a sua imaginação enquanto roteiriza encontros amorosos. Você se liberta. Mas quando se dá conta enxerga o fantasma do antigo amor de canto de olho. Escolhe sorrir. Não há magoa que vença o bem querer. Você deseja sorte, força e coragem pra si e para todos.


Você escreve um texto. Você respira, você espera. Você vive mais uma vez. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

desgastado
depois de tanto tempo
é impossível não estar

aqui dentro
é impossível não ficar
desgastado 

terça-feira, 5 de julho de 2016

fecha essa porta que eu não quero mais ninguém
que já faz tempo que esse sol beijou o mar
e não tem lua nessa noite de amanhã
e não tem peso que me deixe no lugar
que eu não quero estar
eu não
quero estar


aqui

e vai que eu vou
e sai que eu sou
melhor pra mim


domingo, 3 de julho de 2016

terceiro - quatro do sete dois mile dezesseis - estudo sobre o livre ser - eu

Encontrei nos meus rascunhos, rastros.
Não são erros, são coordenadas
Que baseiam suas interpretações
Em cada uma das buscas
Digitei no Google (dois pontos)
O que fazer quando me perco?
João e Maria
Rastros são migalhas de pão
Rastros são invenções
São desculpas
Formas de encontrar segurança ou salvação
Nem sei mais onde estou, mas olhar pra trás me lembra de onde vim,
Nem sempre existe passado
E quando apagada a memória do tempo
Ai sim se faz fundamental
A chama da criação.
“eu não sei pra que lado mais eu vou, tento tanto, mas tão tonto perco o tempo a direção.”
E faço e deixo,entrego, assino em baixo.
“Percorrendo assim eu vou...”
E vou sem nem parar pra pensar aonde é que eu posso chegar!
Nem sei onde estou
Só fui pra qualquer outro lugar
Onde tudo isso que eu sou possa me levar
Onde ao menos eu mesmo, seja capaz de me interpretar.
Com toda a minha verdade, toda a minha entrega, toda a minha vontade
E minha lucidez ensandecida
Em busca de compreensão

E métrica 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

atravesso espelhos
meu nome é o meu endereço
escrevo cartas para atirar ao mar
peço que a chuva caia
que o sol se ponha
que a vida ande pra que eu possa saltar num outro lugar
ainda não é
ainda não deixou de ser


uma porta se abre
e a ponte que pode me levar até ela é feita de papel
não sei se sou leve o bastante
não sei se sou livre o suficiente
carrego comigo as toneladas de meus trinta anos
e elas me esmagam
em cada piscar de olhos
em cada fio de cabelo
em cada vez que leio o seu nome


aos poucos me habituo ao vazio
me acostumo ao vácuo que me abriga
finjo não ouvir as vozes que me chamam
finjo não sentir as mãos que me tocam
finjo não enxergar os olhos que me observam
nenhuma dessas vozes
nenhuma dessas mãos
nenhum desses olhos
acende a chama da minha alma
duas letras que não se encaixam
que me fazem negar os sentidos que possuem
que me trazem a mente a forma que representam
que ferem meu peito centímetro por centímetro
enquanto as arranco de mim com meus dentes tortos
enquanto as toco acidentalmente com a minha língua
me embriagando com as memórias de seu doce sabor

morri duas vezes a mesma morte
nessa noite e na noite passada e na noite que antecedeu ao primeiro dos dias
morri duas vezes e ainda me mantive de pé
minha carcaça vazia resistiu e fingiu sorrir
assustando a multidão repleta de fé e fome
sussurrando perdão e lamentos de bar em bar
colidindo com o espectro da minha vida passada
e desfazendo completamente qualquer autoconhecimento adquirido
soprando como brisa leve e removendo as montanhas que eu um dia carreguei
me fazendo enfim
pronto para aceitar a coragem
pronto para assumir a derrota
pronto pra poder me olhar no espelho
e me refazer
pedaço por pedaço

o tempo deixará tudo em seu devido lugar