quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

a vós nova voz

Tão cedo o corpo consome todas as dores. Anseios que se desfazem com a vontade do tempo cada vez menos, cada vez mais veloz. Tão longe tenho em vista os desacertos, as certezas de que nem tudo dará sempre certo e a vontade de nunca mais ter que desistir. Tão poucas se fazem as razões em expressar-me, já que em mim consigo tudo o que sonhei. Ainda assim de longe a admirar-me está tudo aquilo que por hora eu ainda não sou capaz de ser. Voz que cala eternamente num desejo de ser tão sublime ao ponto de me tornar o extremo intenso de uma expressão tão minha, mas tão minha, que nada jamais iria compreender.

sábado, 11 de dezembro de 2010

20 minutes ago

Quero um cigarro

“Mais uma dose, enquanto eu enforco o violão entre meus braços, mais um trago pra que eu possa me perder pelo espaço."

"Sou como um daqueles meninos somalis mortos de fome que chocam a todos, mas que não incentivam ninguém a fazer nada."

"Eu sou a primeira pedra incandescente de fogo que escapa da boca do vulcão em sua ira e glória."

"Eu sou a infinidade de capacidades que todo o caos pode gerar em sua desordem sublimemente brutal."

Ainda quero um cigarro

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

avontade

o feito

Desfaz

Desfeito

Defeito

Imperfeito

Perfurado

Permitido

Procurando

o efeito

Rompendo

Brota

Salta

Nasce

Vem e vai num vai e vem sem vez

de beijo

e de boca

a minha alma deixa a sua louca

desejo

de sermos

um sol

e ardermos sem nenhum

fim

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

amanhanãs

Dois braços

Camisa

Vinda

Volta

e meia

Cor cinza

Saída

Agora

em mim

Incendeia

Conheci um homem que carregava mil pinceis

Trocava letras e pernas

Vendia almas em latas pequenas

Mordia

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

sem nome, sem tempo

Foi como se uma bomba tivesse sido jogada goela á dentro. Um grande impacto e depois o fogo se espalhando lentamente e consumindo tudo o que encontrasse em seu caminho. Foi de repente que veio aquele queimar misto de calor e frio. E a angustia de estalar os dedos ou de perceber ao esticar os braços o quanto e á quanto tempo anda tão tenso.

É sobre o que eu não sei. Sobre o saber que não se sabe. Algo que se oculta ainda de uma forma a qual eu não seja capaz de encontrar, algo que se esconde de mim em uma fuga ampla de necessidades negadas e de desculpas indesejadas. Outro questionamento. É preciso paz.

Hoje é um dia em que tudo parece pouco

Em que todas as mentiras se tornam imensidão

Em que eu não consigo mais esconder meus olhos

Hoje é um dia em que nada me basta

Em que a vontade de me expandir explode

Em que a vontade de me explodir se expande

Hoje é um dia pra procurar significados

Mas tudo o que eu consigo ver são ausências.

domingo, 7 de novembro de 2010

Todos somos resultados de um caminho. O problema é que tem gente que prefere olhar apenas qual o caminho e não aquilo que ele nos ensinou.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

No revés da sorte, uma palavra. Quase morte. Torna ainda mais forte o menino silêncio. Pouco se sabe, muito se diz. O que se cala cresce nas entranhas. Se agarra ao úmido de dentro, quente queima, arde em sangue nada nobre. Estremece as pernas, insatisfeito, ânsia, mal estar. É tudo quando, como, onde e com quem? É tudo tão questão de tempo que até se pensa. Filme repetido, novela velha, mentira nova que se acolhe ao acreditar. É tudo medo. Minto! É tudo mediação, mesmo que desmedido cada segundo seja. No fundo é tudo o saber de não haver mais força alguma pra se reerguer se mais uma vez cair ao chão o desalmado coração. No fundo é tudo culpa do peso que já pesa aos passos todos dados nomeados de passado. No fundo é tudo culpa do destino, que escolheu esse caminho prum encontro já traçado.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

depois de hoje

A vida me levou por caminhos estreitos, me cercou de incertezas, mas me recompensou com seus braços. Pode parecer exagero, mas o gosto dos seus beijos é a cura de todos os meus anseios. Nossas verdades divididas entre toda a nossa sinceridade incontida. As palavras que escapam sem pensar, a vontade de não ter que ir, a vontade de chegar até o fim. Parece que tudo é mesmo irreal de tão exato, parece que tudo é mesmo impossível de tão provável. Todos os caminhos percorridos só podiam mesmo nos trazer até aqui. Me desculpe se eu sou um pouco demais complicado, me desculpe se eu sôo um tanto quanto demais empolgado, mas é que só assim eu sei ser. É que só assim eu consigo viver e não me importa o amanhã se no hoje de sempre eu puder ter você. A verdade é que não dá pra discordar com o que diz meu coração.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

texto político altamente parcial



Esse é um texto político e altamente parcial. Ontem eu testemunhei uma dose de anarquismo, irreverência e critica política durante o debate para presidente. Enquanto os três “grandes” candidatos se esquivavam e faziam de tudo pra vender seus peixes o “nanico” Plínio deu uma lição ao povo brasileiro.

Plínio sabe que não vai ser eleito, os eleitores de Plínio sabem que Plínio não vai ser eleito. Mas pra eles isso não faz nenhuma diferença. O verdadeiro intuito de Plínio Sampaio de Arruda foi expor aos telespectadores a fragilidade dos candidatos ao governo do país. Quando Plínio desdenha da máscara de perfeição que veste os demais candidatos, mostrando sua faceta humana e imperfeita cometendo “gafes” e “anarquizando” a chatice de um debate sem enfrentamentos; ele nos mostra o quanto Serra, Dilma e Marina se esforçam em tentar nos convencer de que merecem nosso voto, quando na verdade, essa convicção e confiança teriam que partir de nós mesmos espontaneamente e não através de condutas moldadas por marqueteiros a partir de resultados de pesquisas.

Plínio sabe que não vai ser eleito, ouso dizer que Plínio nem sequer quer ser eleito. O que Plínio quis e ontem conseguiu, foi deixar claro a todos os brasileiros o quanto é fraca a classe política de nosso país e que enquanto a política pensar primeiro nos políticos e não no povo, nós continuaremos a viver nessa terra de desigualdade e corrupção que é o Brasil hoje.

Pena que nem todo mundo consiga entender Plínio de Arruda.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sem ponto final?

A cabeça quase explode. A liberdade já foi liberta e o adeus nunca será eterno. Eu sigo em busca do que eu nem sei se é certo, mas ainda assim é aqui e agora tudo o que eu quero. A cabeça quase explode e eu queria ter dito muito mais do que só aquilo. A liberdade foi experimental e eu sei o que quero e posso ser. Eu sigo em busca do que eu não sei se você também quer. Tudo me traz você á mente, mas os nossos caminhos se desviam por caprichos irreverentes. Eu ainda consigo sorrir, correr, lembrar e ás vezes até esquecer. O que eu não consigo, é deixar de querer te ter

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O mar arranca de mim

Em lugar nenhum existe a procura de uma resposta tão profunda quanto á de um amor que não se fez ser.

domingo, 19 de setembro de 2010

néctico

Vinham de todos os lados. Enquanto tudo transcendia aquele simples momento, enquanto tudo se tornava uma coisa só, uma coisa simples, uma coisa fácil, mas nunca uma coisa exata. Vinham diziam, faziam, perseguiam enquanto eu apenas procurava algo que me ensinasse mais sobre o que eu realmente quero, e foi assim que eu encontrei mais um pouco de mim.

Sóbrio. Sobravam respostas pra todas as perguntas que eu não fiz a ninguém. Eu vi. Eu estava e eu fiquei e fui. E eu não escondi em momento algum ou neguei. Sóbrio demais em meio a tanto, em face ao tudo, em vista ao ato. Lá e cá, dono do meu próprio lugar.

Distante, mas ainda assim tão dentro que fazia parte de cada universo que colidia ao som do momento. Tão sem necessidade alguma, tão sem pudor, sem obrigação. Apenas só e só em si tão completo que atiçava a fome, que esquentava a carne, acelerava o coração e fazia salivarem as bocas tão loucas daquelas outras nem assim tão poucas que desejavam o lugar que eu guardo a quem (me) fizer por desejar.

Toda incompatibilidade coexiste. Cumprimentos dados, saudações em meio ao silêncio. Parece que todos sabem, parece que eu chego cada vez mais perto, mesmo que eu não me mova, mesmo que eu não me esforce tanto quanto poderia. Parece que eu sei o que faço e que sabem do que eu sou capaz de fazer.

E digo pra manter o sangue quente e a alma em paz, eu fui e você não estava lá.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

a pena

Paro pra te olhar, vou até lá, chego perto e volto. Eu não digo nada, nem sequer te mostro meu nome ou telefono no meio da tarde. Eu apenas...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

dê partida

Eu não tenho pra onde ir. Eu me engoli diversas vezes, eu resisti, eu me neguei a ceder ás minhas vontades. Eu me calei. E de tão silêncio eu fui capaz de me tornar ruidoso, eu fui capaz de me tornar pedaço de qualquer vontade minha ou que me fosse conveniente. Eu me tornei partes de mim mesmo, partes capazes de se completarem pelo simples fato de serem apenas partes e cada uma delas trouxe algo novo pra que eu pudesse agregar ao meu todo e sempre incompleto eu.

A velocidade que ás vezes necessito ter, a sabedoria que busco em tudo o que me passa, os sentimentos que me permitem entender a minha existência. Lento, pesado e intenso, veloz, leve e vago. Tanto faz. Eu encontro a forma de acordo com a necessidade de ser, mas ainda assim, sou sempre o mesmo. Uma certeza mutável ou até mesmo uma duvida intransigente. Só mais um gole, cada vez menos. Cada vez menos, mas nunca nada.

Não sei o que me leva a escrever, eu nunca uso uma certa palavra, mas eu ainda assim escrevo sem ela o que com ela eu tenho em mente. É uma limitação disfarçada de estilo ou é algo que eu ainda nem sei explicar o que é? Tanto faz, mais uma vez, tanto faz.

Começo a sentir falta das ruas antes mesmo de deixá-las. Acho que minha melancolia antecipada já me indica qual será o meu destino. Eu vou mesmo fazer isso? As certezas não são tão certas e ainda existe o medo de não ser mesmo capaz de lidar com tudo o que isso ira acarretar, mas quem serei eu se eu não me permitir ser eu mesmo de uma forma ainda mais bruta e ao mesmo tempo mais concisa?

Tem horas em que eu queria saber se eu estou mesmo fazendo as coisas do jeito certo. Tem horas em que eu queria simplesmente poder enxergar o meu futuro se eu for por esse ou por aquele caminho, antes de tomar minha decisão. Eu queria ter certeza de que posso mesmo ser assim tão descaso pra certas coisas e tão interesse pra outras. E se não der em nada?

O tempo só corre. Socorre! Socorre aqui que eu preciso de ajuda! Mas ele nem ouve. Ele nem liga, ele passa e me faz virar passado enquanto o meu futuro se torna cada vez mais presente e eu ainda assim continuo estático e abismado. Puta que pariu, pra onde eu vou? Isso vive se repetindo dentro da minha cabeça. O que é que eu vim fazer aqui? Qual é o meu motivo em existir? A única pergunta com algo próximo de resposta é: O que eu gostaria de ser? E tem outra que já não é mais pergunta, é quem eu sou mesmo. Eu sei quem eu sou. Mas eu não tenho pra onde ir, ou será que tenho?

Eu já começo a sentir falta das ruas...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

compartilhado

Tudo o que era belo ficou pra trás. Os dias sem nenhum compromisso se não o de se entreter e se encontrar no meio de coisas tão grandes quanto eu pudesse me achar ser entre meus delírios. Tudo ficou pra depois, pra nunca mais, pra sempre. Onde é que eu estou agora? Quem eu sou entre todos esses mundos? Como eu posso fazer com que as coisas ganhem novos sentidos e intensidades? As perguntas voltam, eu retorno ao ponto em que já estive e por mais que meus olhares não sejam mais os mesmos, ainda assim eu não encontro o meu lugar.

Enquanto eu busco um onde ser pro meu como sou a vida corre. Dinheiro pra compra felicidade, dinheiro pra financiar a liberdade, dinheiro pra sustentar as vidas que vivo e a qual eu dei a oportunidade de ser. Dinheiro pra que eu possa ser reconhecido, pra facilitar as coisas, pra pagar as contas e compra comida. Dinheiro pra que eu possa viver a minha vida. Mas eu não quero viver pra ele ou por ele. Eu não quero deixar de acreditar no que persigo, eu não quero me render e me tornar tão frio e tão escasso que seja impossível reencontrar em mim tudo o que eu sinto hoje.

Minha revolução é lenta. Eu ainda não sei onde estou então pra que definir assim tão apressadamente pra onde vou? Tudo o que ainda pode ser belo á minha frente. Tudo o que um dia eu quero, mas que ainda está longe do meu alcance e por mais que eu insista, eu já quase não vejo caminhos que me levem até isso. Tudo poderia ser bem mais simples eu sei, mas eu optei por isso, irracionalmente eu tracei meu destino a mando do acaso e não quero e nem sequer preciso me lamentar, me martirizar ou me fazer de vitima. E só que ás vezes eu queria que pudessem me entender, que pudessem saber como é estar onde eu estou ou no mínimo aceitar que eu tenha as minhas próprias convicções. Eu preciso me libertar, mas isso não pode custar tudo o que eu prezo em mim.

O tempo corre e eu não saio do lugar. Eu que nunca soube bem o que era o futuro. Eu que nunca dei muita importância pro depois. Eu que simplesmente segui os caminhos que se abriram pra mim, contemplo agora esse muro mais uma vez e percebo que girei sem sair do lugar. O que é realmente importante aquilo que você acredita ou aquilo que esperam de você? No final das contas, no amanhã que vai muito além de ser apenas outro dia, o que é que irá te trazer maior compensação? Eu sei que é a forma como você conseguiu cumprir todos os dois e ainda pode ser e dar felicidade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

velha escola (bigorna)

Asfalto
O aço me mantém além
A fonte diferente me incomoda
Eu tenho métodos
Eu tenho medos
Eu digo o que vem sem nem pensar
Dói pra alguns, inclusive pra mim
Mas é o que eu acredito agora
Agora, talvez não mais amanhã
Eu digo a verdade
Não sou feito de convicções
O mundo é mutável, a natureza é mutável
O caos ainda reina
Ele esta além de nossa compreensão
Nós somos ratos que querem ordenar a vida
Tenha o controle, busque o controle
Se iluda se isso te fizer feliz de verdade
Mesmo que a sua vida seja uma mentira
A escolha é sua
A vida é sua
As pernas também
E o coração, esse talvez alguém lhe tome no caminho
Asfalto
Pedras, árvores, sol e um pouco de mim
Não confie sempre
Confie apenas todas ás vezes
Não se deixe levar
Seja levado mesmo que contra a sua vontade
Permita-se um pouco mais de si
Mesmo que esse si seja em outro(s)
Cale-se e ouça
Mas sempre que achar que deve, que precisar, que desejar, também diga
Não se renda
Não se deixe morrer pelo dinheiro, pelo status, pelo reconhecimento alheio
Você vale mais do que qualquer coisa
Menos apenas do que á aqueles a quem você da todo valor
Ainda assim, valorize quem não tem o que você tem de melhor na sua vida
Ajude
Mesmo que de uma forma que ninguém mais entenda, ou de uma forma que nem mesmo você seja capaz de entender
Asfalto
Asfalto não é algo natural
E você?
Quanto de você é mesmo natural?

eu não disse?

Não vou falar de mim. Não tenho tema, não tenho nenhuma motivação pra lhe dizer nada, pra me dizer nada. Não vou falar dos dias que se repetem, nem das vontades que eu carrego ou das certezas que a vida me deu. Eu não vou falar mais nada. Não vou inventar buscas, torcer amores, criar metáforas. Eu cansei de me sugar em busca de coisas pra dizer pras paredes, pra mim mesmo e pra todos sem exceção. Não vou falar e ponto final.

domingo, 29 de agosto de 2010

algo que eu simplesmente não sei definir ou agora

Esse não é ele, pensou ela. Aquele ali, tão tanto e ao mesmo tempo tão sem intenção alguma. Aquele não era ele. Aquilo não era o que de verdade se escondia por debaixo de toda aquela casca gasta, pelo menos era isso que ela preferia pensar.

Enquanto o mundo seguia de acordo com a desordem do divino aleatório, enquanto os homens não conseguiam compreender a compreensão tão remota e simples da mera e absoluta incerteza, enquanto as palavras se agigantavam entre todas as respostas e questionamentos, enquanto isso...

Não começo o que eu termino. Não escapo do que eu corro. Não me entrego ao que eu desejo. Venha e saia, veja e diga, ouça e entenda.

Silêncio enquanto se espalha pelo chão aquilo que se julga ser o que de fato determinam que se diga é. Não sou. Exposta a ambição do contentamento coletivo, exposta a euforia de se expor, exposta a verdade que se coube mais conveniente ao momento. Sou eu esse, mas esse nem sempre sou eu.

Os versos ficam vermelhos enquanto as flores, cada vez mais amarelas se encantam pelo frio contato azul. Não deu pra entender, mas eu posso explicar. Eu posso qualquer coisa agora, tudo não passa de uma questão de diversas coisas. A forma mais ridícula de se dizer toda a verdade, a forma que todos usamos e que todos amamos condenar. Todos queimam pontes.

Ele queria mais do que tudo aquilo ao mesmo que tudo aquilo o bastava. O momento era feito de diversas euforias, diversas sensações que se misturavam criando a convicção de que se podia ser de fato convicto aquele ponto. Tudo podia dar certo em alguma das combinações infinitas que o destino propõe. O fato de ter essa certeza tornava as coisas leves e os sentimentos cada vez mais reais, explícitos e profundos. O mundo nem sempre entendia a forma com que ele devolvia o que do mundo ele sentia.

Passos lentos, pés descalços, descaso. Não havia nenhuma contenção, não havia nenhuma privação, não havia medo. Os olhos abertos a procura de qualquer beleza simples que a luz do dia pudesse apresentar no caminho de volta. O mecanismo era o mesmo, mas a percepção dava-se o luxo de ser livre.

Parece que ficou um pedaço pra trás. Parece que o retrocesso e o progresso resolveram seguir o mesmo caminho. Parece que retomar é a forma de poder ressurgir ainda maior do que antes. Mas nem sempre se devem aprovar todos os efeitos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

pedaços de nada

“A cortina balança ao sabor do vento. Eu digo palavras que não são minhas enquanto imito exageradamente alguém que nós dois conhecemos. Dou mais um trago no meu cigarro enquanto te vejo passeando as mãos pelo cabelo. Eu sempre te achei linda e você sabe disso, você sente isso.

Você ri distraída olhando pro teto enquanto busca uma palavra pra me tentar fazer entender seus motivos de não concordar com alguma conclusão qualquer que eu tirei naquele momento. Depois de você se espreguiçar um pouco eu te beijo e te olho nos olhos enquanto passo o dedo pelos seus lábios lentamente me deliciando em cada segundo que voa dentro de mais uma noite quente. ”

“Mais uma dose, enquanto eu enforco o violão entre meus braços, mais um trago pra que eu possa me perder pelo espaço. A luz da lua entra pela janela enquanto eu busco uma forma de entender o que é que me manteve ali até àquela hora.

Talvez seja o fato de que eu não quero ver mais ninguém. Talvez seja o fato de que eu não preciso de nada que as ruas possam me oferecer essa noite. Talvez seja o fato de que minha cama, tão vazia quanto meu coração, é sem duvida nenhuma o melhor lugar pra que eu possa afogar meus prantos e reencontrar minha paz. ”

“Desligo a tevê e tudo parece ser como ontem. A prisão em que me mantive faz com que eu já nem sinta mais as mudanças que o tempo causa. Sem fechar meus olhos me deito á procura de abrigo em algum outro plano onde eu seja capaz de ser maior do que aqui.

De um lado para o outro da cama monto e desmonto diversos destinos pro meu amanhã, sempre com a certeza de que ignoro a opção estável. Algo precisa ser movido, algo precisa ser trocado, algo tem que me tirar daqui. ”

“Você não entende. Eu nunca tive opção. Eu nunca pude fazer minha escolha. Sou como um daqueles coitados que a sociedade cria pra justificar seus próprios pecados. Sou como um daqueles meninos somalis mortos de fome que chocam a todos, mas que não incentivam ninguém a fazer nada. Sou como uma daquelas pessoas pra quem a vida parece ter dado tudo de mão beijada, mas que mesmo assim ainda prefere reclamar aquilo que não tem.”

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

pra sempre

Já não havia formas de negar-se a ceder. Tudo o que aos poucos o arrastou até á margem, tudo o que gota a gota o fez perder as forças. Todos os tropeços que antecederam a sua queda, a derrota havia se consumado e as pernas cansadas e ombros pesados daquele homem já não conseguiam mais compreender o motivo do cérebro nunca dizer chega.

Seus olhos já não escondiam mais aquele brilho e suas certezas agora eram tantas e tão desencorajadoras que nenhuma de suas habituais fugas o poderia fazer esquecer que era hora de terminar tudo aquilo. Por quanto tempo mais levar adiante um punhado de ambições infundadas e de amores baratos e fugazes? Por quanto tempo mais acreditar que o tempo um dia iria trazer as soluções? De que valia insistir se mesmo com toda persistência o fracasso era sempre a única constante?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

assim será?

Acordei com o atraso nos olhos. É terça-feira e chove do lado de fora. Acordei sem nenhuma vontade de ir, mas com a obrigação de fazer. Acordei sem querer despertar o que enfim em mim adormeceu sereno. Sem querer me encurralar entre aquelas paredes de novo, sem querer permitir que o ócio confunda ainda mais a minha cabeça.

Aumento o volume pra tentar me desvencilhar do restante do mundo. Eu não vou partir antes de dar adeus a todos. Eu não vou sair antes de dizer sem nenhuma palavra o que eu gostaria de explicar ao seu coração. Eu não vou até que eu tenha toda certeza de que eu não posso afirmar nada sobre mim. Eu não vou descer até que eu entenda o que é que me faz ser assim. Eu não vou parar até que a sua boca consiga calar a dor que grita no meu coração. Aumento o volume pra tentar encontrar na musica a hora certa de retornar ao mundo real.

Sigo com o silêncio dos meus olhos, um zumbi adestrado a procura de um alimento de papel. Um zumbi iluminado pela inconsciência opcional, um zumbi procurando se tornar invisível entre todas as rodas que correm velozes pela avenida encharcada de ódio e descaso. Eu sigo, pois seguir é sempre a única opção que me resta.

Mais meio caminho até o inferno das horas lentas e das verdades mais baratas do mercado. Mais meio caminho até a forma mais simples e mais banal de ser produtivo. Mais meio caminho até o ponto em que eu me afundo dentro de todas as coisas que se acotovelam entre minhas costelas. Mais meio caminho até o desespero de ser refém de valores tão irrisórios quanto desnecessários. Mais meio caminho até que fique provado que não há suporte algum aos meus objetivos. Mais metade do caminho mais curto, mais rápido, mas nem por isso, menos doloroso.

Eu me divido na tentativa de conseguir um meio termo, eu me divido na tentativa de conseguir a tolerância, a paciência, a sabedoria de acreditar que aquilo de alguma forma me será positivo. Eu me divido enquanto tento esquecer os pedaços de mim que foram jogados fora por tantas vezes pelas mãos que eu mais amei e amo. Eu me divido enquanto as duvidas que eu causo ao mundo dilaceram a minha expectativa de solução e solidificam minha solidão á beira desse abismo. Eu me divido na tentativa de escapar mais rápido dessa nova prisão.

O meio da tarde acende um cigarro. O tempo necessário pra algum tipo de alimento e um pouco de paz cercada de angustia e esperança enquanto o telefone não toca. A sua voz não me salva de nenhum dos meus problemas, mas ainda assim ela consegue ser tudo o que eu quero ouvir nessa hora. A fumaça se espalha lenta enquanto eu enxergo os carros entre as poucas gotas que ainda sobraram pra cair do céu. Os sinais se revezam, as pessoas se espremem debaixo das marquises e eu fui o único que corri atrás de um pouco de ar pra preencher com a fumaça cinza de mais um dos meus primeiros cigarros.

O tempo se acelera na volta e a cabeça consegue ser ainda pior durante as duas ultimas horas. O anseio pra que o relógio atinja o momento da liberdade e a expectativa sobre o que e quando fazer a noite. Nenhum dos meus planos se consolida nesse inferno de piso verde. Nenhum dos meus sonhos se torna real enquanto eu sigo as normas de conduta, nada se acresce a mim, exceto meus próprios desejos incapazes de se transcreverem em realidade.

Eu sou uma imensa bola de neve que desaba engolindo tudo o que fica em seu caminho. Eu sou a primeira pedra incandescente de fogo que escapa da boca do vulcão em sua ira e glória. Eu sou a folha que cai no lago e gira de acordo aos desejos do vento. Eu sou a infinidade de capacidades que todo o caos pode gerar em sua desordem sublimemente brutal. Eu sou um escravo, aprisionado de todas as formas. A hora de partir se aproxima.

Na volta já não há mais chuva, já não há mais pressa. Eu tenho tempo de sobra nas duas horas que me restam até que eu possa enfim me distrair a procura de algum talento ou aprendizado através da minha persistência. Na volta eu já não quero mais que o tempo corra, mas ainda assim eu desejo que o telefone toque. Na volta eu aos poucos me esvazio de tudo aquilo que me consumiu nas poucas horas em que estive a serviço da sociedade, a serviço do seu senhor deus de papel e valor.

Eu sou apenas mais um. Esse foi apenas mais um. Outro, apenas outro daqueles que vem se repetindo. Será que deu pra entender?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

aptidão

Alvos fáceis. Somos alvos fáceis demais. É impressionante como fomos moldados pra aceitar qualquer motivo pra viver, como somos construídos com espaços vazios aptos a serem preenchidos por qualquer coisa que nos enfiem goela abaixo. Somos alvos fáceis e no fim das contas ainda achamos que temos liberdade.

Bastaria que alguém esperto o bastante ou idiota o bastante bolasse algo que teoricamente satisfizesse algumas de nossas “necessidades” que nós nos renderíamos rapidamente a qualquer que fosse o preço cobrado. Tão vulneráveis nesse temporal, tão aptos a aceitarmos a elitização. Tão desesperados por sermos especiais.

Somos viciados em enlatados. Somos porcos a espera da ração que irá saciar nossa fome. Somos porcos se esbaldando no lixo que nos jogam. Porcos gordos e fedidos trepando uns sobre os outros entre excrementos e lama. A verdade é que qualquer um venderia a alma pra poder viver o que nos vendem. A verdade é que ninguém resiste em se esbaldar na miséria do outro. A verdade é que sempre criamos formas novas de nos diferenciar e de nos exaltar de quem é supostamente diferente de nós.

Eu não tenho objetivo nenhum. Tudo isso aqui não passa de um monte de palavras, afinal de contas eu fui feito com o mesmo vazio que qualquer outro, eu fui fabricado pra um fim inevitável e pra uma vida controlada e vaga. Fui feito pra querer ser quem não sou, fui feito pra querer ter o que não tenho, fui feito pra sonhar com tudo o que anunciassem na minha tevê, no meu rádio, no cinema, na literatura, em qualquer lugar.
Fui feito pra comprar sonhos infundados e sentir uma agonia sem tamanho na busca de realiza-los. Fui feito de bobo.

Não importa. Eu compro a sua ideologia mesmo assim se ela vier com um punhado de pedras e um inimigo mortal em quem eu possa desferir minhas dores. Eu compro a sua ideologia se ela me prometer qualquer tipo de salvação ou recompensa, e olha que eu nem sou exigente, as minhas não precisam ser virgens e nem tantas.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Nem tão perto. Essa é a única e constante conclusão que tenho. Nem tão perto. Por mais que insistentemente eu diga que estou cada vez mais perto, presumo sempre que não devo enfim, basear as minhas expectativas apenas na passagem do tempo, que por forma inevitável me trará cada dia mais perto de meu futuro, futuro esse onde eu vou chegar aonde quero. Mas só o tempo não basta, muito pelo contrario, ao ir apenas o tempo mais distante fico eu de meus sonhos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Comprou mais do que precisava. Dois litros de refrigerante de cola, seis pães e trezentas gramas de mortadela. Comprou mais do que precisava e saiu em direção ao seu lar sem nenhuma pressa. Lentamente percorria os quarteirões com a mente solta e nenhuma importância com relação ao que se passava ao redor. Os outros já não mais interessavam, os outros eram apenas desculpas para que ele pudesse se sentir melhor, pior ou até mesmo aceito. Com mais do que devia, sem pressa e sem motivo algum pra querer mudar qualquer uma daquelas coisas ele foi. Atrás de algo que pudesse tornar aquela noite especial, nem que por míseros segundos. Foi então que apareceu o carro verde no sinal vermelho.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

pra mim não tem problema

Me acerte de novo
Estoure a sua ira bem na minha cara
Despedace o meu sorriso pelo chão e se deslumbre no meu sangue
Eu quero toda a sua capacidade de matar, de ferir e destruir
Eu quero todo o desespero dos teus olhos, toda a sua força, todo ódio

Me acerte de novo
E reze pra me derrubar
Você não sabe o que eu posso fazer quando me sinto em perigo
Você não sabe o quanto é que eu sinto medo
Como minhas pernas tremem e meu coração gela, segundos antes de eu me desligar
Vem a vida o que só nutre a morte.