sábado, 23 de abril de 2016

palavreado

Essas palavras
Essas e nenhuma outra
Apenas essas
As que saem
As que vencem as incertezas e plenamente existem
Até um novo final
Até que se percam
Até que desencontrem completamente os sentidos
E ai
Ai não sejam mais palavras
Sejam significâncias ainda maiores
Encontrem luz e gerem brilho
Reflitam á respeito de sua própria existência
E criem consciência própria
E assim
Assim simplesmente
Existam
Nasçam
Morram
Crescem
Floresçam e se enterrem numa gota
Num estampido estridente
Numa colisão desenfreada com a impossibilidade coexistente
Num mix de valores e serviços
Numa amplitude característica de qualquer existência
Na sensação de incerteza que precede cada momento
Palavras que sejam por si só
Mais do que o suficiente pra que não escondam
O verdadeiro sentido
De cada adversidade
E das ações que tomamos as cegas
Em busca do destino que almejamos
Palavras que construam a nós
Que destruam os medos e as limitações
Que rompam barreiras e derrotem até mesmo a nossa própria vaidade
Palavras que deixamos ir
Que deixamos ir
Deixamos ir
Palavra
Encontre o seu lugar

E seja verbo quando o destino lhe chamar

terça-feira, 12 de abril de 2016

submergir

É que eu não gosto dessa coisa de fronteira
O meu esporte predileto é me perder
É deixar cair
E aceitar que coisas quebram
Almas rompem
Sentimentos corroem
Verdades despedaçam
E animais acuados avançam

Sou terra vasta
Escolho imensidão sem muros
E cedo a ti todos os meus espaços
Pra que suas pernas corram por mim
Pra que suas mãos não deixem pedra sobre pedra
Pra que você saia sempre quiser e volte sempre que escolher amar
E que nas águas turvas nas quais sacio a sede dos meus instintos
Você veja refletido teu rosto sedento por satisfação
E se permita

submergir 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

seis páginas

Nem esse lugar, nem o outro e nem qualquer outro novo.
Eu temo que eu me obrigue a comer o petróleo da minha alma.
Volto a encarar telas. Volto a enxergar o vazio em cada uma delas.
Cortaram o fio vermelho, cortaram o fio azul. Removeram toda a pólvora.
Só me resta ser a casca de uma bomba vazia.
Não há nada.
Não há nada que saia de mim. Nada ao que eu dê vida. Nada que me dê vida.
Cortaram a minha conexão.
Minha existência é uma representação.
Cumpro meu papel.
Meus papeis.
Dou entrada na segunda guia de simulação da realidade.
Aguardo a emissão do meu certificado de homem pós moderno em crise de existência.
Carimbam a minha carteira de trabalho.
Um percentual pro sindicato.
Dos homens bomba sem fio vermelho, sem fio azul, sem pólvora.
Nem esse lugar, nem outro e nem qualquer outro novo.
Cavo.
Encaro telas e mesmo onde nelas não há, insisto narte.
Corrompo regras e mesmo quando isso me paralisa, não as aprendo.
Perco a conexão – já não devia haver nenhuma.
Repito a musica.
Fake Plastic Trees.
Clichês só existem para serem aceitos ou criticados e só se transformam em clichês por serem unânimes em algum momento.
Dou entrada na terceira guia de simulação da realidade.
Já estamos quase lá.
Uma página já foi.
Ainda tenho noventa minutos até o futebol.
A conexão foi restabelecida.
O mundo invade meus ouvidos.
Realidade na contra mão da minha busca.
A musica acaba.
Reviso o texto.
Ei, seu polícia.
Prenda esse homem, ele fala matematicamente.
No último assento do ônibus o garoto de preto observa a textura macia dos bancos sob a luz do sol.
Tic-tac-bum.
You do not talk about...
Flashes, flashes, flechas.
A conexão oscila.
Sacaram o meu fundo de garantia.
Confiscaram minha poupança.
Trabalhamos para não morrer quando ficarmos velhos.
Na natureza os velhos morrem.
É natural.
Na natureza não existe piedade.
Ninguém pede pinico.
Ninguém paga penitência.
É anti natural temer a deus.
Amai-vos sob todas as coisas.
Eu já fiz amor nesse chão, nesse sofá. Não. Nessa cadeira não.
Não usai meu santo nome em vão.
Ai meu Deus...
Acho que não leram essa.
Se Deus for mesmo esse de letra maiúscula.
Esse do livro que adoram, da cruz, do filho.
Então ele é um idiota.
E eu me rebelo contra ele.
Carimbam a minha passagem pro inferno.
A quarta via da realidade foi atualizada com sucesso.
Uma parte pro sindicato.
Dos homens que não querem seguir um Deus tão babaca.
Clichês só existem para serem aceitos ou criticados e só se transformam em clichês por serem unânimes em algum momento.
A vida ensina a cada segundo.
É só olhar pro lado.
É só olhar pra fora.
É só sentir por dentro.
Você pode acreditar no que quiser.
Desde que sempre considere que possa estar errado.
E assuma o risco.
Assumir riscos é natural.
Bancos não são naturais.
Economistas são os cavaleiros do apocalipse.
Só não vê quem lucra.
Cavo.
Já saem de mim.
Já ganham vida.
Já me dão vida.
Estão vivas.
Estamos condenados por um Deus babaca.
Assino o meu contrato.
3 páginas.
Em branco.
Jogo o dado azul.
Número 4.
Segunda porta á direita senhor.
O homem de paletó branco parece um médico.
O senhor negro mais alto do que dois homens coça sua barba branca.
Abre-me a porta.
Digo: entre, por favor.
Há um acordo.
E eu me rebelo contra ele.
As plantas morrem.
Mãos se tocam.
Grato pela hospitalidade naquele dia.
Você fez o que prometeu.
Não há nada pra ser dado em troca que não seja dado de boa vontade.
Eu já fiz amor nesse chão, nesse sofá. Não. Nessa cadeira não.
Não foi por mim.
Nem nunca foi.
E todos sabem.
Por isso eu vim.
Pra isso eu quis.
E quem foi que me enrolou aquele cordão?
Do que eu devo me livrar?
Pulso direito, pescoço, tornozelo direito.
Joelho direito, cotovelo esquerdo, bacia.
Quase quatro páginas.
Quatro páginas.
A distância até o ponto final aumentou três vezes.
Não há musica.
Há sim um passado inteiro de quando existir era apenas aceitar a incapacidade de satisfação.
Desertei faz uns anos.
Eu não tenho certificado de reservista.
Meu relógio não funciona.
Estou sempre atrasado.
Como kryptonita no café da manhã.
Já fui chamado de superman por mais de 3 pessoas.
Eu odeio o super homem e seu cabelo.
Senhor, achamos algo!
Regente plutão.
Agulha escarlate.
Gelo.
Também queima.
Terra suga água.
Água dura e pedra fura...
Insira mais créditos para completar a chamada.
Finlândia.
Nápoles.
Agora sim.
Um saci.
E todos sabem.
Por isso eu vim.
Preciso rever Otto no Rio de Janeiro.
Grato pela hospitalidade naquele dia.
Toda incompatibilidade coexiste.
Ela não acreditou.
Eu não consegui.
Nem esse lugar, nem o outro e nem qualquer outro novo.
Eu temo que eu me obrigue a comer o petróleo da minha alma.
A luz negra dos teus olhos.
Guardanapo e mão.
Forte como o aço.
Uma nova mensagem na caixa de entrada.
Curtiram a sua publicação.
Compartilharam a sua dor.
Uma nova solicitação de dimensão.
Escreva na sua linha do tempo.
Tempo.
Desertei faz uns anos.
A distância até o ponto final diminuiu para duas vezes.
Na natureza os velhos morrem.
4.
Ela gosta de saber que com você a hora não passa.
Houve um tempo.
Houve outros antes.
Haverá ainda outros depois.
E depois. E depois.
E em todos eles será agora.
E á sua hora será sempre a mesma.
O tempo é um só e ele é o único deus ao qual eu irei me curvar
. chegamos ao ponto final

Seis páginas.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Esse lugar me faz pensar que estou sempre vivendo o mesmo dia. Quantas lembranças angustiadas dessas lentas horas de obrigatoriedade. Quantas vezes eu mascarei a verdade pra que se tornasse possível persistir no cumprimento dessa obrigação. Quanto de mim agora está soterrado por essas rochas frias? Não me alcanço. Não encontro forças pra romper o muro que eu mesmo criei com o passar de tantas dores. Não me sinto melhor, não me sinto maior, não me sinto mais perto.

Eu perdi. Fui derrotado pelas oito horas diárias nas quais eu não pertenço mais a mim. Fui derrotado pela inconstância do meu habitat natural. Deixei as dores acumularem por não ter onde, não ter como, não ter tempo de colocá-las pra fora. Deixei que elas formassem uma capa grossa e cinzenta em volta do meu coração. Eu não podia ceder, eu não podia falhar, eu não podia fraquejar. Eu tinha que ser firme, que ser forte, que cumprir e honrar todas as obrigações de uma nova realidade. Eu tinha que suportar todo o peso e seguir em frente sempre e se mais ninguém podia dar mais, eu poderia. Eu sempre podia, eu sempre pude, eu sempre consegui carregar montanhas e universos nos ombros sem reclamar, sem diminuir o ritmo, sem me render!

Aceitei um fardo maior do que eu poderia. Não foi uma escolha, foi uma consequência. E consequências consequentes me trouxeram até aqui. Esse ponto vazio, essa prisão da alma, essa incapacidade de traduzir o que acontece em mim. No que eu me transformei? Volto em busca do que eu já fui, numa tentativa de compreender a minha fundação. Cavo poços, analiso fósseis, carbono 14. Nunca foi tão difícil aceitar os fatos. Eu nunca imaginei que um dia fosse me perder de mim. Eu nunca imaginei que nesse momento eu fosse ter que ir atrás daquilo que eu pensava carregar entre os dentes, que eu precisasse recriar o brilho dos meus olhos, que eu precisasse inventar uma nova batida pro meu coração.

Não posso ser Ivan se Ivan já não vejo em mim. Não posso ser Ivan se Ivan não consigo mais encontrar em nenhum lugar, nenhuma arte, em nenhuma letra, nenhuma fotografia, nenhum ruído desconexo e amplo. Não posso construir Ivan se já não sei mais do que se fez Ivan um dia. Não posso mais deixar Ivan ao mundo se o mundo já não deixa Ivan em mim. Não posso mais sangrar meu próprio sangue, nem comer meus próprios olhos e nem matar minhas próprias dores e nem amá-las e nem rompe-las e nem calar em paz a minha doce tristeza de nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca conseguir de verdade ser de verdade e viver de verdade e sentir de verdade e encontrar de verdade a verdade de todas as coisas que me cabem, que me fazem, que me rompem e transpõem, de todas aquelas coisas que não se consegue nominar e mal se sentem, mas que sabemos, mesmo sem saber, sabemos que são as únicas e verdadeiras coisas que importam.

Eu não quero mais estar aqui preso na prisão do tempo, dos valores, das ordens, das buzinas, dos escapamentos, das afinidades mal estruturadas. Eu não aceito e nem nunca quis aceitar essa vida! Eu nunca quis aceitar essa vida em meu próprio nome! Eu vim e fiz por outros, por você mais do que por todas as pessoas. Por você eu fiz tudo o que eu pude fazer, por você...


Eu não quero mais parar de escrever. Não quero mais virar a chave e sorrir pra quem vem me pedir pra fazer uma alteração. Não vou dizer mais que estou cansado, fiz um acordo comigo pra negar a existência dessa palavra. Conheci meus limites. Trinta anos e eu conheci meus limites e rompi barreiras, mas agora eu sei. Sei que não sei como, mas definitivamente, sei que não é assim que eu quero viver. 

terça-feira, 5 de abril de 2016

retorno

Eu já soube dizer
Já tive voz
Já fui loucura e liberdade
Coragem tão ingênua
Já fui sorte
Dados jogados em esquinas
Em encontros e almas calejadas
Eu já falei sem me importar
Já me importei sem falar
Já cai e escolhi abraçar a certeza do chão
Água, fogo, terra, ar
Coração
Espírito
Luz
Eu já fui
Já vi
“Eu já venci e continuo vencendo vocês todo dia”
Ás vezes eu me pergunto em que canto eu me esqueci
Em que fundo de gaveta está a minha capacidade de ser puro
Atrás de quantas emoções mal resolvidas está á essência que me serviu de base
Eu sou a falta de fundamento
Sou o desespero do descontrole que se transforma na beleza do caos
Abraço o vazio que me toma
Eu sou um buraco negro
Sou a mentira que contam pra todas as crianças
O mato que cresce na minha janela
O barulho que invade os seus ouvidos antes mesmo que seus olhos abram
Eu já gritei
Eu já bati e já fui batido
Eu já perdi e gerei perdas
Já beijei e já fui beijado
Já amei e já fui amado
Mas ainda assim
Não foi o bastante
Nunca é o bastante
E pra mim já basta de insatisfação
Despreparo
Incerteza
A inevitável inevitabilidade
E eu posso jogar meus jogos
Posso armar minhas cartas
Deslocar minhas pedras
Plantar minhas sementes
E desdobrar a vida até que o que eu desejo chegue as minhas mãos
Mas de que adiante se o infinito é uma constante de todas as minhas equações
E decifrar a vida é simplesmente abraçar o incerto e atirar a verdade nos vidros dos carros
É deixar bater. Sentir o ar. Lutar com o chão e se espalhar pelo asfalto quente.
Minha pele é terra, minha alma é ar e a minha fome é o meu deus
E eu vou queimar até o fim, até o último fio de cabelo
E vou nutrir o mundo com as minhas lágrimas
Com os meus sentimentos mais honestos e profundos
Eu não tenho medo de ser quem eu sou
Eu já soube dizer
E ainda sei

Sei ainda mais