sexta-feira, 27 de agosto de 2010

pedaços de nada

“A cortina balança ao sabor do vento. Eu digo palavras que não são minhas enquanto imito exageradamente alguém que nós dois conhecemos. Dou mais um trago no meu cigarro enquanto te vejo passeando as mãos pelo cabelo. Eu sempre te achei linda e você sabe disso, você sente isso.

Você ri distraída olhando pro teto enquanto busca uma palavra pra me tentar fazer entender seus motivos de não concordar com alguma conclusão qualquer que eu tirei naquele momento. Depois de você se espreguiçar um pouco eu te beijo e te olho nos olhos enquanto passo o dedo pelos seus lábios lentamente me deliciando em cada segundo que voa dentro de mais uma noite quente. ”

“Mais uma dose, enquanto eu enforco o violão entre meus braços, mais um trago pra que eu possa me perder pelo espaço. A luz da lua entra pela janela enquanto eu busco uma forma de entender o que é que me manteve ali até àquela hora.

Talvez seja o fato de que eu não quero ver mais ninguém. Talvez seja o fato de que eu não preciso de nada que as ruas possam me oferecer essa noite. Talvez seja o fato de que minha cama, tão vazia quanto meu coração, é sem duvida nenhuma o melhor lugar pra que eu possa afogar meus prantos e reencontrar minha paz. ”

“Desligo a tevê e tudo parece ser como ontem. A prisão em que me mantive faz com que eu já nem sinta mais as mudanças que o tempo causa. Sem fechar meus olhos me deito á procura de abrigo em algum outro plano onde eu seja capaz de ser maior do que aqui.

De um lado para o outro da cama monto e desmonto diversos destinos pro meu amanhã, sempre com a certeza de que ignoro a opção estável. Algo precisa ser movido, algo precisa ser trocado, algo tem que me tirar daqui. ”

“Você não entende. Eu nunca tive opção. Eu nunca pude fazer minha escolha. Sou como um daqueles coitados que a sociedade cria pra justificar seus próprios pecados. Sou como um daqueles meninos somalis mortos de fome que chocam a todos, mas que não incentivam ninguém a fazer nada. Sou como uma daquelas pessoas pra quem a vida parece ter dado tudo de mão beijada, mas que mesmo assim ainda prefere reclamar aquilo que não tem.”

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