sexta-feira, 6 de maio de 2016

Eu não penso mais sobre a lua
Ou sobre as infinidades estelares
Ou a respeito de até onde vai á borda azul do céu das tardes de terça feira
Eu não penso mais em como seríamos além de todas as regras sociais vigentes
Ou sobre como chegamos até as geladeiras
O estoque de alimentos, as roupas, os relógios
Eu não penso mais sobre como as ruas seriam daqui a dez anos se a humanidade deixasse de existir amanhã
Eu não penso mais sobre o comportamento de uma matilha
E nem em como a musica deve ter surgido
Ou em que ponto uma parede suja primeiro quando tocada por um sapato sujo
Eu não penso mais em abrir uma fresta na existência e me isolar de tudo
Ou na minha casa de quatro portas e quatro janelas no alto da montanha perto da árvore a beira do abismo onde eu contemplei o vazio da minha alma
Eu não penso mais em tentar compreender tudo, mesmo que eu não entenda nada
Eu não entendo
Hoje eu só penso num futuro que me parece cada dia mais incerto
Hoje eu só penso num passado que me parece cada vez mais distante
Hoje eu só penso que talvez eu devesse pensar de outra forma
Que talvez eu devesse agir de outra forma
Que talvez de outra forma, tudo fosse possível
Que de outra forma eu não teria que colocar tantas camadas entre a minha alma e rua
Que de outra forma talvez escapasse de mim alguma coisa que te fizesse perceber
Alguma coisa que fosse como um beijo no olho
Ou um retrato da alma
Ou um espelho apontado praquele seu desejo escondido
Uma brasa que flutuasse até aquela madeira que ainda não queimou
E te fizesse pensar na lua
Nas infinidades estelares


E em mim

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