venho
venho pela dor
como se fosse um vício
espetar agulhas no espaço entre cada um dos dedos
venho
venho por você
e sim, isso é um vício
como se eu precisasse sempre reler aquela mesma palavra
como se eu precisasse me certificar todos os dias
que as coisas ainda são as mesmas
que nada mudou de ontem pra hoje
como se eu pudesse encontrar alguma pista
que me dissesse qual é o próximo passo
desse dançar sem musica no escuro
eu volto
percorro o mesmo caminho
que entorta a minha clavícula
parte os úmeros em três
embola rádio e ulna
e por fim
estilhaça cárpicos, metacárpicos e falanges
no instante em que a porta se fecha
venho e penso em ossos
dentes e esquinas
venho e passo os olhos
entre as sobras e as mentiras
e as vísceras expostas
no lugar onde ninguém mais vai procurar
venho
e anoto recados
e deixo mensagens em secretárias eletrônicas
venho
e recorto lembranças
pra pendurar numa parede
venho
e não espero retorno
não espero mais nada
por isso
venho
pela dor
pelo vício
por você
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