segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pão Quente

Era só uma boa desculpa pra que a vida se tornasse menos vazia. Todos os dias eu descia até a padaria as sete e trinta e cinco pra lhe dar bom dia. Algumas vezes lhe seguia e foi numa dessas que descobri onde era a sua casa, depois disso passei a caminhar até três vezes por dia, a tarde, a noite e até de madrugada, a maioria das vezes de madrugada, só pra ver se te via ou simplesmente zelar por seu sono.

Não demorou pra que eu descobrisse que a outro você pertencia, mas a coisa chegou num ponto em que isso em nada interferia. Acho que no fundo eu já nem fazia por você ou por seus olhos verdes e peitos enormes, acho que no fim das contas era mesmo pra ter o que fazer. E foi por isso que comprei o cachorro, aquele branquinho que nem sequer tinha nome, até que um dia uma senhorinha veio puxar papo enquanto ele cagava em frente a sua janela.

“Oh, que bonitinho! Como chama o cachorrinho?”

E ai sem saber o que responder eu disse que o nome dele era Aristeu.

“Nossa! Igual ao meu marido!”

Confesso que nesse momento eu me assustei um pouco, mas mal sabia eu o que iria acontecer ainda não é? Foi ai que saltou pra fora da janela naquele sol de outono as três da tarde, o seu rostinho lindo dizendo.

“Mãe, traz um chocolate pra mim.”

E a velha mulher do Aristeu quem diria era a autora da sua beleza gritante. Você acenou pra mim daquele jeito tipo “Oi carinha da padaria.” E eu dizendo:

Olá. Como vai?

Fui acompanhar sua Mãe as compras. Confesso que depois de duas semanas de amizade com a sua velha eu já não agüentava mais, já estava até repensando se valia a pena todo aquele esforço. Até o dia em ela me pediu pra ajudar a carregar as compras e pela porta da cozinha eu pude te ver só de calcinha e camisetinha vendo tevê no seu quarto. Aquele dia eu passei pelo menos duas horas no banheiro.

Mas bom mesmo foi quando ela me disse que ia viajar e me pagou cinqüenta reais pra ir até a sua casa regar as flores dela. No primeiro dia eu não reguei flor nenhuma. Passei a manhã inteira no seu quarto mexendo em tudo. Devo confessar uma atenção especial a sua gaveta de digamos roupas intimas. Mas a surpresa mesmo foi no segundo dia, eu já me preparava para passar a noite no seu quarto quando ao abrir a porta dou de cara com a sua chave na mesa da cozinha. Fiquei estático, até que você veio assustada ver que barulho era aquele. De pijama cinza, calça quadriculada e toalha amarrada na cabeça. Simplesmente linda!

Oi. É, o que você ta fazendo aqui?

É que a sua mãe me pediu pra vir regar as flores.

Ah, sim. Tudo bem então. Se precisar de alguma coisa eu to no meu quarto.

Então subi rumo as flores do terraço, minhas pernas estavam bambas, meu coração disparado. Em minha mente milhares de situações aconteciam simultaneamente e na maioria delas nós dois estávamos nus nos amando loucamente em todos os cômodos da casa. Depois de regar todas as flores desci discretamente e quando ia em direção ao seu quarto me despedir tive uma idéia. Subi as escadas, fechei os olhos e me joguei. Com o barulho você correu assustada e ao me encontrar estirado no chão veio me acudir.

Meu Deus! Você esta bem?

Suas mãos em meu rosto, a dor era pouca eu tinha me precavido e arrumado um jeito de fazer bastante barulho. Foi então que de repente nossos olhos se encontraram e em silêncio eu mergulhei em seus lábios. Dois segundos depois os cinco dedos de sua mão direita acertaram minha bochecha e sua doce voz desferiu horrendas palavras para minha pessoa. Levantei e sai sem dizer nada, deixei a chave na porta e passei a comprar pão em outra padaria.

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